quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX


Novo filme do bruxo inglês é melhor, novamente, que o anterior.

O que a franquia de Harry Potter tem de melhor e diferente em relação a várias outras é a sua capacidade de amadurecer e aprender. Cada filme, desde “A Pedra Filosofal”, consegue corrigir aquilo em que o anterior errou. Por exemplo, um dos grandes erros do primeiro foi ter sido fiel ao extremo com o livro e evitar as necessárias adaptações. A “Ordem da Fênix” não comete este e outros erros. O apelo ao público infantil foi moderado (mas ainda existe, apesar do que alguns críticos vêm afirmando), isso pode ser conferido na surpreendente cena inicial, que oferece uns ótimos sustos e um excelente nível de realismo. A atuação dos atores que crescerem fazendo a série melhorou bastante. Daniel Radcliffe conseguiu transmitir bem a mudança do personagem. No entanto, tal mudança não é tão marcante no filme quanto no livro, porém, creio que isso é mais por culpa dos produtores que do ator: no livro, Harry está mais antipático do que nunca, gritando e brigando sempre com todo mundo, o que não agradou muito os fãs, daí a decisão de diminuir um pouco o tom disso no filme. O novo longa também não tem como arma principal o deslumbramento que víamos constantemente pelos olhos de Harry para com as surpresas do mundo mágico (contudo, isso também ainda se faz presente no filme). “Ordem da Fênix” é também um filme interessante porque fala sobre repressão política e subversão, um tema bem verossímil, e temos a chance de ver Harry assumindo um papel de líder. Alguns críticos alegam que o filme abandonou completamente o humor e se tornou mais sombrio, isso não é verdade, talvez para o livro sim, mas não para o filme. Por mais que o filme realmente possua um tom mais sombrio e carregado, o humor ainda permanece, entretanto, também moderado e simplesmente ótimo. A atriz veterana Imelda Stauton está deslumbrante no filme com sua Dolores Umbridge cínica e odiável; aliás, uma coisa que se tem que admitir sobre os filmes de Harry Potter é o seu elenco de atores maduros de altíssimo nível, todos com atuações excelentes, apesar das poucas falas. As cenas de ações finais são bem legais porque pela primeira vez Harry faz mesmo alguma coisa, e não só ele, já que vemos uma batalha de bruxos contra bruxos, em que Harry lidera um pequeno exército. Uma das inovações mais bacanas do filme com relação ao livro são os momentos de “aparatações” (teletransporte) dos bruxos mais velhos nessa cena de batalha, visto que a maneira como as aparatações são descritas no livro podem funcionar bem lá, mas no filme com certeza ficariam sem graça. O filme contém, porém, alguns poucos erros de continuidade, afinal, trata-se de uma adaptação de um livro com mais de 700 páginas, o maior da série. Todavia, tal fato não chega a atrapalhar o entendimento da trama para quem não leu o livro. “Harry Potter e a Ordem da Fênix” mostra que nem todas as continuações devem ser simplesmente caça-níqueis sem vigor e inventividade.


HOMEM-ARANHA 3



O novo filme do Aranha não supera as expectativas, mas cumpre a sua função.

A trilogia dos filmes do Homem-Aranha desponta como a 2º melhor da década, pois não conseguiu alcançar a marca do Senhor dos Anéis. A trama do terceiro filme funciona, diverte e empolga, mas não chega a emocionar. Não que Sam Raimi cometa os mesmos erros vistos em Batman & Robin: apesar do número maior de vilões (Novo Duende, Homem Areia e Venom), cada um tem o seu papel bem definido e relativamente bem explorado, sem que isso ofusque, contudo, o próprio personagem título ou mesmo seu alter ego. Muito pelo contrário, Peter Parker (Tobey Maguire) continua sendo o mesmo personagem carismático, problemático e, por isso mesmo, adorável de sempre. Nunca deixamos de torcer por ele, mesmo quando a influência negativa do simbionte alienígena o deixa mais sombrio (a despeito de também o deixar incomodamente mais idiota, e com um tosco visual emo), visto que, com isso, ele só se torna ainda mais humano. Além do mais, Tobey Maguire é, definitivamente, o Homem-Aranha, mesmo que o ator quisesse não conseguiria fazer com que o personagem não desse certo. O filme não chega a ser, entretanto, excelente, devido aos constantes efeitos de “medo da câmera” ocorridos durante as (poucas) cenas de ação, isto é, o expectador não consegue acompanhar os movimentos das lutas do herói (mas nada que uma inevitável segunda sessão não resolva): os combates se desenrolam numa velocidade alucinante demais e, muitas vezes, quase fora do quadro, algo infelizmente bastante comum em filmes de ação covardes e preguiçosos, afinal, quanto menos você mostrar, menos motivos terá para ser criticado. É claro que os personagens exigem uma grande agilidade nas cenas de ação, no entanto, nos dois primeiros filmes, tínhamos essa agilidade, mas, ainda assim, podíamos perceber e entender o que estava acontecendo (a primeira e segunda luta com o Dr. Octopus ainda é insuperável!). É provável que isso seja reflexo da saída de John Dykstra da coordenação dos efeitos especiais para esse terceiro filme. Contudo, as batalhas conseguem divertir, principalmente por conta da variedade de vilões que proporcionam momentos mais diversificados. O romance entre Peter Parker e Mary Jane (Kirsten Dunst) continua rendendo ótimos momentos frente às novas dificuldades encontradas pelo casal e pela inegável química existente entre Maguire e Dunst. Quem se destaca de maneira extraordinária é James Franco com seu Harry Osborn psicologicamente atribulado e dividido entre seu desejo de vingança contra o Homem-Aranha e sua amizade por Peter Parker.O Homem Areia (Thomas Hayden Church) e Venom (Topher Grace) dão um show à parte. O visual de Venom, porém, acaba sendo pouco explorado no longa, um triste efeito do famigerado “medo da câmera” supracitado. O desenlace do filme deixa um pouco a desejar, mas nada que estrague completamente o show. Não conseguimos nos emocionar realmente com todos os aspectos dramáticos de Homem-Aranha 3, no entanto, saímos do cinema com uma estranha sensação de vazio, um anuncio da saudade que esses personagens com certeza nos deixarão caso o quarto filme não venha à luz (com o mesmo elenco e equipe).

O LABIRINTO DO FAUNO


Conto de fadas “para adultos” encanta e choca em um universo que mescla os horrores da guerra civil espanhola e o mundo mágico vivido por uma menina.

O diretor Guillermo Del Toro (“Blade II”, “Hellboy”) escreveu e dirigiu com maestria essa fábula bela e violenta. Apesar do visual fantástico o filme não é feito (nem recomendado) para crianças. Ganhador do Oscar de fotografia, maquiagem e direção de arte, “O Labirinto do Fauno” é um verdadeiro espetáculo poético e, algumas vezes, assustador. A trama se passa em 1944, durante a guerra civil espanhola. A pequena Ofélia muda-se, juntamente com sua mãe, para um posto militar numa região montanhosa, para viver com o capitão Vidal. Insensível e brutal, Vidal, recém casado com a mãe de Ofélia, detesta a garota e só se importa com o filho que a mãe desta está esperando para preservar a honra de seu nome. Ofélia refugia-se, assim, em um mundo mágico, no qual se encontra com um fauno que afirma ser ela a princesa perdida do seu reino subterrâneo. Para voltar a reinar novamente, a jovem tem que realizar três tarefas sob as orientações do Fauno. A maneira com que Del Toro mescla a realidade com a fantasia leva o espectador a embarcar numa viagem fascinante, emocionante e marcante. O filme também traz um show de atuações, com destaque para Sergi Lópes como o capitão Vidal e Doug Jones (que também se esconde na pele prateada do Surfista Prateado e na viscosa e escamosa de Abe Sapien em “Hellboy”) como o fauno. Ivana Baquero, que interpreta Ofélia, não está excelente, mas se mantém em um nível competente.

PIRATAS DO CARIBE – NO FIM DO MUNDO



O terceiro filme do capitão mais maluco dos sete mares é cinemão da melhor qualidade.

A nova aventura do capitão Jack Sparrow e companhia conclui a trilogia Piratas do Caribe da maneira mais nobre possível: sendo franca – o filme é puro entretenimento e nada mais. Sem levar a si mesmo a sério, como foi o caso de Matrix, a produção acerta em cheio no objetivo a que se propôs: ser um dos melhores filmes pipocas de todos os tempos, com cenas de ação simplesmente espetaculares (e, lógico, completamente inacreditáveis e mesmo insanas, isto é, “mentirosas”) muito humor e, claro, Jack Sparrow e... mais Jack Sparrow. Seguindo a cartinha do Senhor dos Anéis, Gore Verbiski não comete o erro de outras trilogias, guardando o melhor do show para o final, mas, infelizmente, como em outras trilogias (Matrix de novo) erra na quantidade absurda de subtramas que não são, e nem poderiam ser, plenamente desenvolvidas no filme. Não estou me referindo aos ganchos, justos e bastante compreensíveis, deixados para os prováveis próximos filmes, mas, por exemplo, à introdução da deusa Calypso na trama e do lorde pirata chinês interpretado pelo excelente Chow Yun-Fat, personagens aparentemente importantes que são, porém, totalmente desperdiçados no filme. Ainda assim, Piratas do Caribe no fim do mundo diverte e diverte muito, entretanto, se você quer raciocinar e refletir sobre temas relevantes para o bem-estar da humanidade vá a uma biblioteca e fique longe dos cinemas por um bom tempo.

DURO DE MATAR 4.0


Junto com “Transformers”, o mais novo filme de John McClane desponta como a surpresa mais bacana entre os filmes de ação de 2007. Surpresa porque a idéia de robôs gigantes se digladiando soava para mim a coisa mais “Power Ranger” do mundo, e os filmes do tipo “Duro de Matar” eram para mim coisa datada, presa aos anos 80 e início dos 90. O policial canastrão, cheio de frases de efeito, que saí mandando bala para todo lado era muito legal para aquela época, mas agora não convence mais: a década de 10 marca o início da predominância dos super-heróis, mundos fantásticos, e cia (novamente, não que eu esteja reclamando), tudo proporcionado pela magia digital. Só que “Duro de Matar 4.0” é como o próprio título já diz, a praga não morre de jeito nenhum. Prova disso é a trama mais que contemporânea, com ritmo frenético, muito humor (dá-lhe frases de efeito e uns clichêszinhos básicos), e ação, muita ação, boa e da melhor qualidade como há muito não se via em filmes polícias hollywoodianos (parece que James Bond só sabe desfilar de terno). O melhor é ver como a concepção de heroísmo McClaniano é discutido no filme, isto é, o que um policial metido a maluco pode fazer no mundo cibernético de hoje? Ou seja, eles não ignoraram que tiras durões do tipo de McClane é algo difícil da platéia atual engolir e se propuseram a pôr isso em pauta na trama do filme. Porém, nisso acabaram cometendo alguns exageros, às vezes parece que McClane foi congelado na década de 80 e acabou de despertar no ano 2007, como se ele nunca tivesse ouvido falar de MP3, GPS ou mesmo Internet. Além do mais, algo que sempre me deixa chateado no final da maioria dos filmes policiais também ocorre em “Duro de Matar 4.0”: não há um conflito mano a mano entre o herói e o vilão, coisa mais chata: o bandido foge, o mocinho emplaca numa perseguição, dá um tiro no desgraçado e acabou! Cadê aquelas brigas de rinha do tipo “Chuva Negra” e “Maquína Mortífera 2”. Todavia, em “Duro de Matar 4.0”, apesar de não ter um tal mano a mano, a morte do vilão não deixa de ser “invocada”!!

O GRANDE TRUQUE


Com O grande truque o diretor de Amnésia novamente obriga o espectador a querer rever o filme.

Quem não assistiu ao ótimo Amnésia, talvez (para prejuízo seu) não tenha paciência para acompanhar o complexo desenrolar dos mistérios de O grande truque, mas para quem já se habitou com o modo com que Cristopher Nolan narra uma história e sabe que vale a pena assistir seus filmes até o final, será recompensado com uma ótima diversão que, o melhor de tudo, dá o que pensar. O diretor de Batman begins, que também está dirigindo The dark knight (O Cavaleiro das Trevas), próximo filme do morcegão, narra, ou melhor, monta um quebra-cabeça envolvendo dois mágicos rivais que, durante o final do século XIX, levam até as últimas conseqüências uma disputa para ver quem oferece ao público o truque mais extraordinário. Antes mesmo de atuar na pele de Bruce Wayne em Batman Begins Christian Bale já havia se consagrado como um ator de peso, sua brilhante atuação em O grande truque só vem corroborar isso. Já Hugh “Wolverine” Jackman ainda precisa provar, pelo menos para os críticos mais exigentes, seu potencial como ator, mas com sua atuação nesse filme ele mostra que não tardará a conseguir tal feito. O filme também tem como pontos altos os cenários e os figurinos que retratam o final do século XIX com muita sutileza e beleza. O grande truque não é um filme com uma narrativa muito comum, por isso, pode causar certa estranheza a princípio, porém, ao final, consegue o grande feito de fazer com que o espectador não apague imediatamente o filme da cabeça, como normalmente acontece, mas que fique pensando sobre o que acabou de ver e que, provavelmente, terá que rever.

O OPERÁRIO


FILME BASEADO NOS ROMANCES DE DOSTOIEVSKI DISSECA OS EFEITOS DA CULPA.

Um operário de uma indústria sofre de uma estranha crise de sono, que o torna responsável por um grave acidente envolvendo um colega de trabalho. Ele acusa um empregado novo de ser o real culpado pelo acidente, só que ninguém, fora ele próprio, sabe de quem se trata. Assim, ele se vê subitamente vitimado por uma engenhosa conspiração, buscando a todo custo encontrar o culpado. Claramente baseado nos romances do escritor russo Dostoievski (há inclusive uma referência ao mestre em uma cena), o longa não traz aparentemente nada de novo, mas se assistido com cuidado mostra de uma maneira interessante como uma auto-sabotagem se efetiva, dando margem a uma melhor compreensão de vários aspectos do comportamento humano. Christian Bale está simplesmente espetacular, afora a impressionante magreza exibida pelo ator, sua interpretação sustenta o clima tenso e angustiante do filme.

QUARTETO FANTÁSTICO E O SURFISTA PRATEADO



O segundo filme da família de heróis supera o primeiro, mas ainda se mantém preso ao apelo infantil.

Seguindo a fórmula já padronizada nas grandes franquias hollywoodianas, o segundo filme do Quarteto consegue ser bem melhor do que o primeiro (o problema sempre está no terceiro filme). A trama gira em torno da chegada de uma entidade cósmica na Terra: o Surfista Prateado, que anuncia o iminente fim do mundo. O sucesso da técnica utilizada para criar o Surfista é o ponto alto do filme (além da volta de Jéssica Alba como a Mulher-Invisível, é claro). Tim Story chamou o estúdio Weta (também responsável por dar vida ao Gollum) para, a partir da atuação de Doug Jones (que também está por baixo da pele escamosa de Abe Sapien em “Hellboy” e do Fauno no “Labirinto do Fauno”) animar um dos personagens que se destaca entre os mais realistas elaborados em CGI. A personalidade misteriosa e a voz marcante do Surfista (Laurence Fishburne, “O Morfeu”) também roubam a cena no filme. Contudo, “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado” peca pelas poucas cenas de ação realmente empolgantes, o excesso de piadas, as delongas com a preparação do casamento de Reed e Sue, os efeitos tipo “Tom e Jerry” usados em algumas cenas do Dr. Fantástico, a fraca subtrama envolvendo o Tocha, e, principalmente, o desperdício com um dos vilões que, juntamente com o Magneto, mais enobrecem a galeria de vilões do universo Marvel: o Dr. Destino. A voz do ator que interpreta Destino é por demais “fraca” e não carrega todo o orgulho e soberba que o personagem exige (mas, quando ele volta a usar a máscara, a coisa dá uma melhorada). Ademais, a rivalidade de Destino com Reed é o que mais movimenta e enriquece a trama nos quadrinhos. Mas, no longa, isso não aparece, e o vilão acaba ficando sem uma motivação que realmente o torne singular e interessante. Fora tudo isso, quem, como eu, gostaria de ver o Surfista protagonizando cenas de ação espetaculares, decepciona-se: os grandes momentos do personagem acontecem simplesmente com ele...surfando. Seu mestre, Galactus, apesar das declarações contrárias de Tim Story para a imprensa, não passa mesmo de uma nuvem. O derradeiro confronto entre o Surfista e o Galactus não possui, ao meu ver, qualquer sentido. A sensação que temos é que os roteiristas não tinham a mínima idéia de como terminar a trama, e daí inventaram um final estapafúrdio. Todavia, o filme ainda diverte. Os problemas que Tocha tem com seus poderes, levam-no a uma cena de ação final bem bacana entre ele e o Destino (apesar disso acabar de vez com as chances da equipe toda se envolver numa grande cena de batalha ainda aguardada), além de momentos bem engraçados com o resto da equipe e... bem, temos o Surfista, ora! Personagem que, provavelmente, terá uma aventura solo!

SUNSHINE – ALERTA SOLAR


Sunshine, Inglaterra, 2007. De Danny Boyle. Com Cillian Murphy, Chris Evans. 108 min. Ficção Científica.

Com a enxurrada de filmes sobre super heróis no cinema (não que eu esteja reclamando), o gênero de ficção científica ficou relegado a séries de televisão capengas que ainda hoje insistem em tentar ressuscitar “Star Trek” (Jornada nas Estrelas). Por isso, quem tem saudades de filmes como “2001: uma odisséia no espaço” e “Alien: o 8º passageiro” não pode perder a oportunidade de revisitá-los em “Sunshine”, filme dirigido pelo inglês Danny Boyle, diretor de “Extermínio”. O filme narra a missão da tripulação da nave Ícaro II (nome bem legal, é só consultar a mitologia grega) para soltar uma bomba no núcleo solar a fim de reascender o astro rei que está morrendo ameaçando a vida na Terra. O longa conta com as atuações de Cilliam Murphy (“Extermínio” e “Batman Begins”, o Espantalho) e de Chris Evans (o Tocha do “Quarteto Fantástico”, coincidência e tanto). Os cenários são bastante sombrios, o que garante um clima bem realista. As imagens do sol são extremamente belas. Talvez alguém possa achar a história um pouco monótona no início, o que possivelmente se deva a inspiração clara dos dois filmes supracitados, os quais, a despeito de serem obras-primas indiscutíveis, podem acabar sendo vistos como contendo um ritmo por demais lento para o expectador atual, porém eu creio que vale a pena aumentar a dosagem da cafeína e ser surpreendido por um ótimo filme. Vale também dizer que o que mais me interessou em “Sunshine” são algumas (sutis) discussões que o filme levanta sobre o papel do homem no universo e a sua relação com o transcendente.

CASSINO ROYALE


Particularmente nunca fui grande fã dos filmes do agente secreto britânico mais famoso dos cinemas, mas sempre procurei, na medida do possível, assisti-los. Muito charme e elegância, porém, pouca ação, esse era o problema dos filmes anteriores. Cassino Royale, consegue, no entanto, injetar o que faltava nas aventuras do espião, contudo, o filme não é, como alguns equivocadamente afirmaram, uma versão de Carga Explosiva: há muito menos ação no novo filme de James Bond no que do entregador maluco. Cassino Royale não se reduz apenas a explosões e tiroteios, mas isso não tira de forma alguma o mérito do longa, que tem o seu momento mais tenso, o verdadeiro clímax do filme, em um simples jogo de pôquer. Em sua primeira missão como 007, James Bond tenta impedir que um financista, que está sendo ameaçado por seus clientes terroristas, consiga recuperar seus fundos de investimento em um jogo de altas apostas. O James Bond interpretado por Daniel Craig passa da truculência para a sofisticação em questão de segundos, dando uma nova e convincente roupagem para o agente. O filme apresenta uma das cenas de tortura mais hilárias e insanas já vistas. James Bond ainda continua sendo James Bond: publicidade de traquinarias eletrônicas, exibição de lindas mulheres e de carros magníficos. No entanto, a interpretação de Daniel Craig abre um caminho inédito e bastante promissor para os filmes do agente 007. Os fãs tradicionais podem até torcer o nariz, mas esse é um dos melhores filmes de James Bond.

BORAT – O SEGUNDO MELHOR REPÓRTER DO GLORIOSO PAÍS CAZAQUISTÃO VIAJA À AMERICA


O humor americano possui suas peculiaridades, é preciso, de certa forma, aprender a rir com ele, mas isso muitas vezes não vai além de um mero riso forçado. Mas esse filme revela o que é uma comédia de verdade! Borat é um pseudo-repórter do Cazaquistão, personagem criado e interpretado pelo ator inglês Sacha Baron Cohen. Ao tentar supostamente aprender sobre a cultura americana, Borat, deixando escapar seus preconceitos, que acabam por desenterrar os de seus entrevistados, revela o que essa tão autoglorificada cultura tem de mais ridículo, obtuso, fútil e risível. O choque entre costumes é pretexto para que os sentimentos mais xenofóbicos, homofóbicos, elitistas e mesquinhos venham à tona. Convenhamos, rir da sociedade americano é o melhor e mais entusiástico dos risos atualmente, creio não ser necessário dizer o porquê. Apesar do longa conter uma história com início, meio e fim, as informações que obtive garantem que ele foi rodado no formato pegadinha, com a diferença de que a câmera não precisava ficar escondida, já que o personagem é um repórter. É claro que a cena inicial e a final foram encenadas, todavia, a reação de algumas pessoas entrevistadas ao longo do filme dá mesmo a sensação de que elas não têm a mínima idéia de que aquele é um inglês fingindo ser um habitante do distante Cazaquistão. Mas, por outro lado, por mais que tudo não passe de uma grande farsa, o filme continua hilário do mesmo jeito.Sacha Baron Cohen, indicado ao Oscar e ganhador do Globo de Ouro como melhor ator por esse filme, é tudo o que o Repórter Vesgo do infame programa trash “Pânico na TV” sonha em ser (não é a toa que Vesgo, ao ser certa vez apelidado de Borat por um americano, viu-se todo eufórico). A arte de Borat de constranger as pessoas é muito mais refinada que a de Vesgo, pois muitas vezes nos irritamos com o Vesgo a tal ponto de quase dar razão para as celebridades que partem para a violência, mas com a ingenuidade de Borat não há como se irritar.

QUO VADIS


ÉPICO CLÁSSICO SOBRE AS PERSEGUIÇÕES AOS CRISTÃOS PELO IMPÉRIO ROMANO AINDA SE MANTÉM VIGOROSO.

É realmente surpreendente que, mesmo com todos os recursos técnicos do cinema atual, alguns épicos rodados recentemente perdem feio para filmes como: “Os Dez Mandamentos”, “Ben-Hur”, “Spartacus” e “Quo Vadis”. Os cenários, figurinos, e, principalmente, as multidões de figurantes “in live action” (“reais”) desses filmes lhe conferem uma aura, uma atmosfera, uma beleza, que vários épicos atuais não alcançam. “Quo Vadis” narra a história de um tribuno romano apaixonado por uma jovem cristão, durante o reinado do primeiro grande “Anticristo”, o imperador Nero. O filme possui erros históricos grotescos, mas e daí? O importante é que toda a mitologia (sobretudo Católica) em torno daquele período foi conservada na trama, e, por isso, o filme é tão belo. É como Aristóteles já dizia em sua “Poética”, a poesia é superior à história, pois mostra como a coisa poderia ter acontecido. E Nietzsche já afirmava que a descrença crescente com relação à religião cristã durante a Alemanha do século XIX, provinha justamente da aclamada cultura histórica alemã, e de sua busca em tentar comprovar historicamente o que as Sagradas Escrituras narravam. Ademais, quando o mito é transcrito e fixado na forma escrita, muito de sua força original já se esvai, visto que ele agora é passível de análise. Para mim, a falta de respeito à linguagem mítica e a tentativa de resgatar uma pretensa verdade histórica por trás dos mitos e das lendas, é uma das ruínas de vários épicos recentes como o famigerado “Rei Arthur”, e até mesmo “Tróia” (que é um ótimo filme, claro, mas poderia ser bem melhor se os deuses não fossem severamente excluídos da narrativa como meras superstições). “Quo Vadis” mostra um Paulo extremamente já convertido em “São”, ou seja, segundo a imagem do credo Católico, assim como um Pedro se autoproclamando a pedra fundamental da Igreja de Jesus, isto é, como o primeiro Papa. Nero é visto como o louco que contempla Roma em chamas, tocando lira e cantando. Ora, quem quer ser educado (historicamente) por um filme deste, que o mostre a um professor de história e peça para ele o corrigi-lo, mas tal não é a obrigação do filme, assim o creio. As últimas cenas, quando os cristãos, condenados injustamente por terem incendiado Roma, são lançados no Coliseu para serem devorados por animais, são muito verossímeis, outro grande mérito de um filme feito numa época em que nem se sonhava com recursos digitais. Mas o melhor de “Quo Vadis” é o crescimento espiritual por qual passa o fictício tribuno que se apaixona por uma cristã, as cenas em que ele questiona a fé de que um Galileu morto na cruz seja o Filho de Deus, e de que esse Deus é o único que há, etc., são bem roteirizadas. O mais interessante é que ele não se converte daquela maneira romântica, de repente, por uma revelação, etc. Na verdade, ele nem ao menos se converte, no seu íntimo ele continua um romano devoto de Júpiter, no entanto, ele aprende a admirar a fé dos cristãos, uma grande lição de tolerância.