quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

QUO VADIS


ÉPICO CLÁSSICO SOBRE AS PERSEGUIÇÕES AOS CRISTÃOS PELO IMPÉRIO ROMANO AINDA SE MANTÉM VIGOROSO.

É realmente surpreendente que, mesmo com todos os recursos técnicos do cinema atual, alguns épicos rodados recentemente perdem feio para filmes como: “Os Dez Mandamentos”, “Ben-Hur”, “Spartacus” e “Quo Vadis”. Os cenários, figurinos, e, principalmente, as multidões de figurantes “in live action” (“reais”) desses filmes lhe conferem uma aura, uma atmosfera, uma beleza, que vários épicos atuais não alcançam. “Quo Vadis” narra a história de um tribuno romano apaixonado por uma jovem cristão, durante o reinado do primeiro grande “Anticristo”, o imperador Nero. O filme possui erros históricos grotescos, mas e daí? O importante é que toda a mitologia (sobretudo Católica) em torno daquele período foi conservada na trama, e, por isso, o filme é tão belo. É como Aristóteles já dizia em sua “Poética”, a poesia é superior à história, pois mostra como a coisa poderia ter acontecido. E Nietzsche já afirmava que a descrença crescente com relação à religião cristã durante a Alemanha do século XIX, provinha justamente da aclamada cultura histórica alemã, e de sua busca em tentar comprovar historicamente o que as Sagradas Escrituras narravam. Ademais, quando o mito é transcrito e fixado na forma escrita, muito de sua força original já se esvai, visto que ele agora é passível de análise. Para mim, a falta de respeito à linguagem mítica e a tentativa de resgatar uma pretensa verdade histórica por trás dos mitos e das lendas, é uma das ruínas de vários épicos recentes como o famigerado “Rei Arthur”, e até mesmo “Tróia” (que é um ótimo filme, claro, mas poderia ser bem melhor se os deuses não fossem severamente excluídos da narrativa como meras superstições). “Quo Vadis” mostra um Paulo extremamente já convertido em “São”, ou seja, segundo a imagem do credo Católico, assim como um Pedro se autoproclamando a pedra fundamental da Igreja de Jesus, isto é, como o primeiro Papa. Nero é visto como o louco que contempla Roma em chamas, tocando lira e cantando. Ora, quem quer ser educado (historicamente) por um filme deste, que o mostre a um professor de história e peça para ele o corrigi-lo, mas tal não é a obrigação do filme, assim o creio. As últimas cenas, quando os cristãos, condenados injustamente por terem incendiado Roma, são lançados no Coliseu para serem devorados por animais, são muito verossímeis, outro grande mérito de um filme feito numa época em que nem se sonhava com recursos digitais. Mas o melhor de “Quo Vadis” é o crescimento espiritual por qual passa o fictício tribuno que se apaixona por uma cristã, as cenas em que ele questiona a fé de que um Galileu morto na cruz seja o Filho de Deus, e de que esse Deus é o único que há, etc., são bem roteirizadas. O mais interessante é que ele não se converte daquela maneira romântica, de repente, por uma revelação, etc. Na verdade, ele nem ao menos se converte, no seu íntimo ele continua um romano devoto de Júpiter, no entanto, ele aprende a admirar a fé dos cristãos, uma grande lição de tolerância.

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